MINHA VIDA!

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quinta-feira, 21 de março de 2013

Balanço da 10ª Semana do Futebol Sergipano

O clássico foi um espetáculo, e deu à Socorrense a liderança
Clássico foi um espetáculo nas arquibancadas. O futebol sergipano mostrou que tem torcida. (Fotos: Arquivo Infonet)
Chegamos à 10ª semana do Futebol Sergipanocom uma tabela bem diferente da semana anterior. Mas o destaque da semana, obviamente, foi o clássico entre Sergipe e Confiança.
O líder Socorrense é o surpreendemente líder do torneio e pode fechar os “jogos de ida” enquanto primeiro colocado do Campeonato Sergipano. Tropeçou com o limitado Estanciano de Iedo na 8ª rodada, mas ainda está na frente de Confiança e Sergipe, completando o trio da dianteira do Campeonato. Enquanto o Siri tem 16 pontos, o Sergipe é o vice-lider por conta do saldo de gols, contabilizando os mesmos 15 pontos que o arqui-rival Confiança.
Abaixo desses três da dianteira, um novo trio de favoritos à classificação se forma. Com 11 pontos, River, América e Olímpico tem histórias bem distintas para contar nesses 8 jogos de torneio.
A começar pela equipe de Carmópolis, que saiu da lanterna diretamente para o G4 com duas vitória consecutivas, pulando de 5 para 11 pontos. Venceu com facilidades o Lagarto por 3x0 fora de casa, depois de surpreender o Confiança no Batistão. Um prognóstico já feito por muitos no mundo da bola: o River vai se ajeitar, e assim fez.
Campeonato segue embolado e já alcança a metade da fase classificatória.
O América segue com uma campanha regular, apesar dos perdido pontos em jogos fundamentais. O empate em 0x0 com o lanterna Boca Júnior mostra como a equipe de Propriá poderia estar almejando maiores feitos se não vacilasse em momentos fundamentais. O Tricolor da Ribeirinha enfrenta exatamente o River Plate em Carmópolis, no chamado “jogo de seis pontos”.
O Olímpico de Itabaianinha faz o inverso do América. A equipe que estreou com duas goleadas humilhantes de 5 gols, soube conquistar pontos fora de casa das equipe mais frágeis, assim como segurar empates importantes. Após as duas derrotas iniciais, disputou 6 jogos e perdeu apenas um, empatando dois e vencendo outros dois. A equipe ultrapassou o Itabaiana, um dos que marcaram cinco gols na equipe no começo do torneio.
É o próprio Itabaiana que hoje é a surpresa negativa do campeonato. A equipe de Freitas Nascimento que chegava com o preparo de Copa do Nordeste, hoje tem apenas 9 pontos conquistados de 24 disputados. Um time limitado em campo, que ainda não ganhou uma identidade, que joga claramente desestimulado e que conta com a teimosia retranqueira do seu treinador. O tempo está passando, e se o Tricolor da Serra quiser almejar o bi-campeonato estadual, deve começar a mexer as peças urgentemente.
Os “jogos de volta” já estão batendo na porta e começa a contagem regressiva para a semifinal.
- Torcedores questionam proibições em estádios
Polêmica das bobinas dividiu opiniões. Em destaque, Policial Militar reclama com torcida.
O clássico do domingo, entre Sergipe e Confiança, foi um espetáculo a parte por conta das ações das torcidas. Do lado do Dragão uma fumaça fazia um efeito visual belíssimo com as cores dos clubes, enquanto bandeiras eram tremuladas ostentando o escudo da agremiação.
No lado do Sergipe a turma foi além: um mosaico que tomou toda metade do estádio formou uma série de faixas em branco e vermelho destacando as cores do clube mais antigo do estado. Nos dois lados uma chuva de bobinas de papel reforçou a beleza da festa das torcidas.
A festa teve elementos como há muito tempo o Batistão não via, surpreendendo os torcedores que não vão com maior frequencia ao estádio. Acontece que logo na segunda-feira, dia seguinte ao clássico, as rádios noticiavam que o comando da Policia Militar acataria um pedido de vetar as bobinas. Mais uma proibição planejada logo depois de uma festa daquele nível.
As primeiras informações que circularam apontavam que um radialista teria sido alvo de uma bobina por um torcedor insatisfeito. Em solidariedade ao colega, outros profissionais teriam recomendado à Policia Militar o veto desses artigos por oferecer riscos a quem está dentro de campo, que cumpriria imediatamente.
Uma segunda versão era de que torcedores estariam lançando a bobina em direção a alguns policiais, que teria reclamado do problema e que o veto seria uma resposta a esse evento. Esse segundo fato foi presenciado por esse que escrever, que inclusive registrou o momento da discussão entre um policial e integrantes da Torcida Trovão Azul, de onde teria partido o objeto que atingiu e irritou agente (segue foto que registra o momento).
No meio da discussão, na qual um agente da Policia Militar ameaçava os torcedores dizendo "hoje não tem diálogo", um torcedor, de forma coerente, questionou a postura do agente (é permitido por lei), dizendo que ele não podia culpar toda aquela gente pela irresponsabilidade de uma pessoa.
A questão da "cultura torcedora" precisa entrar nos debates sobre o futebol de forma urgente. 
Em ambos os casos se justifica uma insatisfação com a má fé de alguns indivíduos irresponsáveisque tentavam atingir alguém com um objeto que tinha em mãos.
Mas cabe entrar a discussão: até que ponto medidas tomadas com a proibição das boninas terá efeito prático na questão da segurança dos estádios? Ou mais, até que ponto esses tipos de proibições realmente impedem que indíviduos mal intencionados deixem de fazer algo que prejudique o outro?
É muito mais uma questão de lógica do que de preocupação com a segurança dos torcedores e de qualquer profissional que esteja dentro de campo em um jogo do porte de um clássico. Mais além, é também uma questão de avaliar os efeitos externos que envolvem uma medida como essa, prejudicando uma grande massa de torcedores por conta da ação isolada de, repetindo: um indíviduo irresponsável em um ato de má fe.
O esforço de integrantes de movimentos de torcida ou torcida organizada, como Setor B e Esquadrão Colorado do lado vermelho e Movimento Azulino, Trovão Azul e TJC do lado anil vão muito além da festa que é feita naquele dia. Esses torcedores tem consciencia de que o papel que eles cumprem tem um efeito a longo prazo, quando conseguem nas arquibancadas, produzir um elemento que encanta os jovens torcedores que passarão a acompanhar esse clube.
Quando esses instrumentos – bobinas, sinalizadores, mastro de bandeiras, faixas, bumbos etc – passam a ser impedidos de entrar no estádio por conta do “pontecial risco em ser utilizado para agressão”, eles deixam de compor festas e manifestações de torcidas que marcam e renovam essa massa de torceidores. Convenhamos: de 14 mil torcedores que tiveram bobinas em mãos, dois ou três arremessaram com o intuito de acertar alguém.
Em tempos de construções de estádios cada vez mais pomposos e caros, um projeto muito claro de resignificação do torcedor está sendo tocado no Brasil, e em Sergipe essa lógica vem se reproduzindo sem qualquer tipo de reflexão mais profunda. Enquanto em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre essas medidas buscam tornar os torcedores mais passivos dentro do estádio, em meros “consumidores do espetáculo”, em Sergipe estamos fazendo isso pelo simples prazer de... proibir?!
Jogos como o de domingo marcam gerações. São centenas de crianças e adolescentes que se encantam com a festa de sua torcida e fazem a opção de deixar de lado o sofá, a TV e os clubes do eixo RJ-SP e passam a saudar, valorizar e ser parte do futebol local.
Mas para isso existir tem de existir aquele grupo de “loucos” que vai acordar cedo, arrecadar dinheiro, correr atrás de material e chegar 4 horas mais cedo no estádio para organizar o papel do mosaico, a bandeira, a faixa, os instrumentos e as bobinas. São eles que estão sendo punidos pelo erro de dois ou três “irresponsáveis em atos de má fé”.
Em tempo: o Batistão entrou na rota dos estádios que pretendem ser Shopping Centers. Na quarta-feira a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer anunciou que será lançada o edital para empresas que tenham interesse em reformar o estádio Lourival Batista e, nas palavras do secretário Mauricio Pimentel, todos os torcedores assistirão aos jogos sentados. Outro equívoco: de onde saiu essa história de que os torcedores querem assistir aos jogos sentados?

Bastar acompanhar jogos de times como Confiança, Sergipe e Itabaiana. Há uma grande parcela da torcida (possível maioria) que opta por assistir em pé, cantar e apoiar. Com essa nova lógica de torcedor-consumidor que está ganhando força, esse torcedor ativo estaria sendo excluído e prejudicado.
Não estão se contemplando os diversos perfis de torcedores que compõem um estádio, que tem diferentes formas de acompanhar o clube, diferentes formas de se comportar em estádios e diferentes formas de apreciar uma partida de futebol.
Isso lembra o caso do Grêmio, onde sua torcida Geral foi impedida de assistir aos jogos em pé, e onde um acordo entre torcida e diretoria foi desrespeitado com a exigência do Corpo de Bombeiros e Policia Militar para a colocação de cadeiras num espaço que foi criado especialmente para comportar esse tipo de torcedor.
O senso comum criticou a torcida e a diretoria gremista de forma mais agressiva que a própria avalanche da Geral. Isso já acontecia antes daquele acidente que foi espetacularizado nos noticiários.
Mas vamos ao Primeiro Mundo para entender que isso não é coisa de “bárbaros”: na Alemanha as torcidas também exigiram, e foram atendidas num gesto democrático, que tivessem direito a um setor do estádio apropriado para aqueles torcedores que gostam de assistir aos jogos em pé e fazendo festas.
O Borussia Dortmund reservou no seu Westfalenstadion um espaço que comporta nada menos que 25 mil torcedores em pé e que geram um barulho ensurdecedor. Quase o dobro da capacidade do Batistão, numa cidade que tem os mesmos 500 mil habitantes de Aracaju. O setor sempre lota.
Questões de cultura. O próprio manager da equipe do Vale do Ruhr já se posicionou sobre esse e outros assuntos de forma bem direta: “Se você chamar um torcedor alemão de ‘consumidor’, é bem provável que você arrume uma confusão”, afirmou sem rodeios, Jurgen Klopp.
Nas bandas da terras européias, há cada vez mais gente se engajando pela defesa do que eles chamam de Fankultur, ou Cultura Torcedora. Por aqui não aprendemos a aceitar, quanto menos valorizar. Na realidade nem ao menos respeitamos.
Felizmente os torcedores sergipanos não aceitaram passivamente mais essa proibição, e pretendem se organizar para pautar o fim dessa onda proibitiva e restritiva. Afinal, se somos um país democrático, nada mais justo que os torcedores definam o que deve e o que não deve existir dentro das praças esportivas que eles frequentam pelo menos uma vez por semana.
Por Irlan Simões

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