O Globo
RIO - Os jornais estrangeiros trataram a condenação do ex-ministro da
Casa Civil José Dirceu na segunda-feira como a mais dura sentença por
corrupção contra um político do alto escalão do governo no Brasil. O
Financial Times destacou que a decisão do Supremo Tribunal Federal abriu
um precedente no país, cujas elites agem frequentemente com a certeza
da impunidade.
“O caso está sendo considerado como um divisor de águas em um país
onde os políticos e as elites são acusados de usar um sistema jurídico
ineficiente para agir com impunidade”, escreveu o “Financial Times”. “O
Brasil tem uma longa e pitoresca história de políticos que cometem
crimes e escapam da punição, com a Suprema Corte condenando nenhum até
esse caso”, acrescenta.
O jornal cita o ex-presidente Fernando Collor, ‘que hoje é senador
apesar de ter sofrido impeachment por por corrupção”, e o pai dele,
Arnon Mello, “um senador que assassinou outro senador na Casa em 1963 e
nunca foi punido pelo crime”.
O Financial Times encerra matéria dizendo que o ex-presidente Lula insiste que não sabia nada sobre o esquema.
O “New York Times” descreveu José Dirceu como uma das figuras mais
poderosas do governo do Partido dos Trabalhadores. Segundo o jornal
americano, ele foi condenado a quase 11 anos de prisão “por orquestrar
um vasto esquema de compra de votos que abalou o sistema político
brasileiro”.
O jornal reproduziu a opinião do professor de Direito da FGV Thiago
Bottino, que também é consultor do GLOBO na cobertura do julgamento: “A
extensão da sentença para um político influente e a mera possibilidade
de ele cumprir parte da pena na prisão, antes de receber liberdade
condicional, atua como um precedente histórico na cultura política do
país em que a impunidade em casos de corrupção que tradicionalmente
prevalece”.
O jornal americano noticiou ainda a condenação de José Genoino e
ressaltou que “falta ver ainda se os condenados vão realmente para a
prisão e quando”, pois a defesa ainda vai tentar protelar o cumprimento
da sentença.
“É muito raro no Brasil um político do alto escalão passar muito
tempo na prisão por corrupção ou outros crimes”, conclui o jornal.
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