Aos 85 anos o forrozeiro sobre de alzheimer , mas passa bem
Aos 85 anos, Josa o Vaqueiro do Sertão segue longe dos palcos (Fotos: Portal Infonet) |
Foi com mais de 52 anos dedicados a apresentações nos palcos
forrozeiros, que o sergipano José Gregório Ribeiro, popularmente
conhecido como “Josa, o vaqueiro do Sertão" construiu a sua caminhada no
forró. Fã declarado do rei do Baião, Luiz Gonzaga, Josa que completou
no último dia 12 de março, 85 anos, deu uma parada na carreira musical
após a descoberta de um Alzheimer.
A reportagem do Portal Infonet esteve na residência de sua
filha, Joseane de Josa, em um apartamento localizado na zona Sul de
Aracaju, local onde se encontra em repouso o Vaqueiro do Sertão. Durante
entrevista, Joseane de Josa falou sobre momentos marcantes da carreira
musical do forrozeiro, que inclui conquistas, amores e vida pessoal.
De origem humilde e do interior de Sergipe, o filho de lavradores do
Povoado Jacaré, em Simão Dias, município distante 100 km de Aracaju, se
tornaria em pouco tempo, uma das grandes referências da música popular
nordestina. Autor de mais de 300 composições no forró, Josa fez questão
de retratar toda a realidade vivenciada em suas composições. “Ele era um
montador de cavalo, adorava as lidas do gado, sempre ligado na natureza
e com 10 anos já ouvia Luiz Gonzaga. Sempre que ia vender banana na
feira livre de Simão Dias ele já ia ouvindo no auto falante achando o
rei”, conta Joseane.
Carreira do sergipano é marcada de inúmeros sucessos |
Aos 18 anos, Josa decidiu ir ao Rio de Janeiro para seguir carreira
militar, mas um acidente mudou os seus planos e fez com que ele
investisse na carreira musical. “Ele foi para o serviço militar e depois
foi prestar concurso na Guanabara, antiga capital do país, no Rio de
Janeiro, e aí concorreu com mil pessoas para a Polícia Militar (PM),
passou em 3º lugar, e sempre ouvindo Luiz Gonzaga. E foi na PM que ele
ingressou como sargento músico, mais era de clarinete. Só que como ele
tinha uma dificuldade na arcaria dentária, o maxilar inferior cobria o
superior, estava dando dificultando na sua atuação. Em 1959, ele estava
domando um cavalo bravo, e acabou caindo do animal e fraturou a tíbia e o
peronho do pé esquerdo. Com essa queda, ele amputou um dedo e se
aposentou”.
Aposentado, Josa foi até uma loja de instrumentos musicais localizada
rua Uruguaiana, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), e comprou o seu
primeiro acordeom. Com o novo instrumento, ele retornou a solo sergipano
e passou a tocar forró por todo o Estado. Sempre usando o chapéu de
couro, símbolo característico do Vaqueiro. “Painho comprou um acordeom
que até hoje está com ele. Em Sergipe ele começou tudo que sabia de
clarinete ao acordeom, e se tornou Josa, o vaqueiro do Sertão”.
Autor de mais de 300 composições no forró, Josa fez questão de retratar toda a realidade vivenciada em suas composições |
Foi com inúmeras participações em programas de rádio da época, que Josa
conquistou em pouco tempo o seu espaço, e acabou ganhando o seu próprio
programa na Rádio Difusora, atual Rádio Aperipê AM. E foi por meio do
programa intitulado ‘Nas sombras de uma Jaqueira’, título de canção
carro chefe do cantor, que ele conheceu o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Um
encontro marcado de histórias e emoções.
“Luiz Gonzaga o rei do Baião, estava hospedado em uma pousada em Caldas
de Cipó, na Bahia, e a dona do local ouvia assiduamente todos os dias o
programa de Josa no rádio. Então ele ouviu o programa e gostou e disse
que queria conhecer esse caboclo. Em seguida telegrafou para painho, e
veio conhecer ele aqui em Sergipe. Durante esse encontro, na época, quem
estava no auge era o cantor Roberto Carlos, e eles se conheceram na
rádio e acabaram se estendendo no horário do programa ao ponto que a
rede desligou o sinal do programa de painho. Eles acharam isso um
absurdo, e para saíram em manifesto pelas ruas de Aracaju, questionando
porque cortaram o rei do baião Luiz Gonzaga para por o do Roberto
Carlos. E olhe que era programa de auditório, painho e Luiz foram com a
platéia fazer um protesto na frente do Palácio do Governo para
questionar isso (risos)”.
Doença
Há 10 anos, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um Alzheimer tiraram o
vaqueiro dos palcos. “Hoje a doença tirou a fala dele, a marcha, e ele
não fala mais. A última vez que ele foi aos palcos ele tava com 70 anos;
Em nenhum momento eu senti a não aceitação de painho com a doença. Ele é
um homem muito de Deus, falava sempre em religião, havia esse respeito,
o temor ao senhor. Ele sempre dizia que o homem nasce, cresce, e se
desenvolve. Ele entendia esses processos da natureza. - A vida é ilusão,
porque tanto orgulho, se todos são abrolhos que se acabam no chão –
dizia painho”.
Josa, o vaqueiro do Sertão
Mas o que Josa sempre procurou na sua vida, foi um cenário igual a sua
música – Nas sombras da Jaqueira – e ele encontrou na cidade de Areia
Branca, local que residiu por 38 anos. “Ele procurou um lugar que
tivesse jaqueira para terminar seus dias e ele encontrou em Areia
Branca, que é a propriedade dele, tudo o que dizia a sua música - Nas
sombras da Jaqueira – e por 38 anos ele viveu lá, na cidade que ganhou o
título de 3ª capital do forró no país. Com a doença, há dois anos ele
está morando comigo aqui em Aracaju”.
A filha de Josa, a cantora Joseane de Josa |
Bastante emocionada, Joseane encerrou a entrevista falando do que o seu
pai representa para a sua vida. “Para mim ele é o patrimônio cultural
de Sergipe. Todos os colegas artistas têm muito respeito e amizade a
ele, e eu entendo, sou filha suspeita para falar, mas eu entendo que é
mérito, porque ele foi um cara que soube fazer a marca dele. Teve a moda
do duplo sentido e ele não se corrompeu, e conseguiu se manter naquilo
que ele defendia, e para mim ele é símbolo de força e coragem. Ele é um
guerreiro e me mostra isso a cada dia nessa revolução de santidade. É o
meu orgulho”, finaliza.
Por Leonardo Dias e Raquel Almeida - infonet.com.br
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