“Quando percebi que ia ocorrer o choque, só houve tempo de levantar
a perna. Felizmente usava capacete mas estava descalço na hora do
acidente”. O depoimento é do autônomo Ednaldo Gonçalves Sobrinho, de 23
anos. Natural de Paripiranga (BA), ele fez o relato do acidente que
sofreu no último dia 1º, numa das avenidas daquela cidade baiana,
enquanto aguardava na última terça-feira, 8, o atendimento de um
ortopedista no Hospital Regional ‘Monsenhor João Batista de Carvalho
Daltro”, unidade gerenciada pela Fundação Hospitalar de Saúde (FHS) em
Lagarto, município da região Centro Sul de Sergipe.
O autônomo, que além de escoriações leves pelo corpo sofreu uma
fratura na perna direita, é uma de centenas de pessoas que diariamente
têm engrossado um ranking nada positivo: o de vítimas da violência no
trânsito, em especial de acidentes envolvendo motos e motonetas. De
acordo com relatórios gerenciais do HRL, somente nos primeiros quatro
meses do ano, o Hospital Regional de Lagarto atendeu a 824 pacientes
vítimas de acidentes envolvendo esse tipo de veículos, enquanto os
automobilísticos envolveram apenas 78 usuários no mesmo período.
Os dados da unidade hospitalar mostram ainda que essas estatísticas
vêm crescendo de forma frequente e de forma assustadora, a cada mês. Em
abril deste ano, o número de pacientes vítimas de acidentes envolvendo
motocicletas e motonetas chegou a 266, representando um aumento de
52,87% se comparado a janeiro de 2012, quando o HRL atendeu a 174
usuários envolvidos nesse tipo de ocorrência.
Samu 192
Leonardo Coelho, superintendente do SAMU |
A falta do uso de itens básicos de segurança e outros fatores, como
alcoolismo, têm sido, no interior do Estado, determinantes para óbitos e
sequelas muitas vezes irreversíveis entre as vítimas de acidentes com
motos e motonetas. “Geralmente, esses acidentes causam fraturas de
membros e traumatismo craniano. Entre as fraturas, as mais comuns
atingem as pernas e os braços”, salienta o superintendente do Samu. “As
colisões com motos, por mais simples que sejam, sempre fazem vítima com
fratura de membros”, reforça.
De acordo com Leonardo Coelho, o aumento do número desse tipo de
ocorrência tem atingido principalmente pacientes jovens, com média de
idade entre 16 e 25 anos, e em municípios como Lagarto, grande parte é
despreparada para o trânsito. “No interior é um absurdo. Muitos sequer
têm habilitação e não usa equipamentos essenciais como o capacete”,
justifica. “Além disso, hoje há muitas facilidades para o financiamento
na compra desse tipo de veículos”, afirma.
Fábio Mendes Fernandes, superintendente do Hospital Regional de Lagarto |
“Quando a pessoa não faz uso desse e de outros itens de proteção, como bota, calça e jaqueta, tem-se um aumento e agravamento das escoriações e das lesões, principalmente nos pés, pela falta de caçados fechados”, salienta.
O aumento do número de vítimas de acidentes envolvendo motocicletas
e motonetas guarda relação direta com o crescimento da frota desses
veículos. E em Lagarto, assim como em todo o país, esse panorama não é
diferente. Nos últimos cinco anos, a frota de motocicletas e motonetas
em Lagarto mais que dobrou. De acordo com dados do Departamento Nacional
de Trânsito (Denatran), enquanto em janeiro de 2007 o município possuía
uma frota de 5.460 motos, no mesmo mês deste ano esse número pulou para
11.851, um aumento da ordem de 117%. Em relação às motonetas, esse
crescimento foi ainda maior, passando de 1.309 em janeiro de 2007 para
3.341 no mesmo mês deste ano, o que representou um acréscimo nessa frota
de aproximadamente 155%.
Fotos Bruno César e Ascom/HRL
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