Ao contrário dos rivais argentinos, que têm tradição e são de massa, genéricos contam com poucos torcedores e sofrem certo 'preconceito'
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Clássico argentino entre Boca Juniors e River Plate é sinônimo de casa
cheia. Seja no Monumental ou na Bombonera. Clubes tradicionais do
futebol portenho, rivais há quase 82 anos, Milionários e Xeneizes são de
massa. E o confronto rende assunto para toda a semana. Na contramão
desta realidade, Boca-SE e River-SE devem fazer um 'superclássico' para
poucos pagantes nesta quarta-feira, no Francão, em Estância, às 20h15m
(de Brasília). Sem a mesma grandeza dos homônimos, os clubes de Sergipe
lutam para conquistar a aceitação do público.
O número de admiradores das duas equipes cresce de forma ainda muito
tímida, a passos lentos. Além disso, Boca e River sofrem com o
preconceito de torcedores de clubes mais tradicionais em Sergipe, que os
chamam de 'fakes'. O Boca Júnior, por exemplo, quando saiu de
Cristinápolis e foi para Estância, contabilizava apenas cerca de 30
torcedores declarados, de acordo com a diretoria do clube. Hoje, esse
número passa de 300, e o presidente Gilson Behar diz que está elaborando
um projeto de marketing para atrair mais admiradores.
Modesto Francão vai virar La Bombonera com Boca e River genéricos (Foto: João Áquila)
- O número de torcedores ainda é muito pequeno. Mas as coisas já
melhoraram um pouco. Aos poucos, o pessoal de Estância está aceitando o
nosso clube. E isso me deixa muito satisfeito. Hoje, já temos uma
torcida organizada, a 'Onda Azul'. No boca a boca, o Boca vem ganhando
um bom número de fãs. Estamos trabalhando para atrair mais gente, com
vendas de camisas em todos os lugares, até em Aracaju - declarou Gilson
Behar.
O River Plate de Carmópolis tem uma quantidade um pouco mais
substancial de torcedores. A grande maioria é da cidade petrolífera
mesmo. De acordo com estimativas dos dirigentes, são cerca de 3.000
fieis seguidores. A diretoria não construiu um projeto consistente para
fazer com que este número aumente, mas acredita que os resultados em
campo acabaram atraindo o público.
- Nós estamos amadurecendo projetos de marketing. Mas futebol sem
resultado nunca vai chamar a atenção de ninguém, não tem marketing que
construa isso. Nós somos um clube que, nos últimos quatro anos,
conquistou três títulos e tem representado bem nosso estado em
competições nacionais. Em todos os campeonatos locais que participamos
disputamos o título. Com isso, atraímos a simpatia de todos. Nossos
treinos estão cada dia mais cheios, e os jogos sempre têm bom público.
Ganhando mais títulos, a tendência é que o número de torcedores aumente.
Estamos trabalhando para isso - destacou Ernando Rodrigues.
Fábio Júnior quer marcar primeiro gol do clássico
Personagens do espetáculo
Colocar no currículo que jogou um Boca x River é motivo de orgulho para
qualquer jogador. Mesmo que o clássico seja genérico. Atletas das duas
equipes vivem a expectativa do grande confronto. Para eles, em campo,
não estará apenas a disputa pelos três pontos, será também a chance de
fazer história. O atacante Fábio Júnior, do River Plate, quer balançar a
rede e ficar marcado como o primeiro a fazer gol no 'superclássico'
sergipano.
- É uma situação inusitada. Um jogo importante para subirmos na
classificação, mas acima de tudo histórico por ser a primeira vez que
vão se enfrentar. Quero a vitória. Mas seria muito bom se eu conseguisse
marcar também. Quero fazer o gol para ele ser veiculado lá na Argentina
e eu ficar mais famoso (risos). Se fizer, vou comemorar dançando um
forró. Lá eles dançam tango, mas eu vou de forró - brincou Fábio Júnior.
O experiente zagueiro Júnior Tuchê é o grande xerife da zaga do Boca
Júnior. Com passagens por Vitória e Palmeiras, jamais imaginou que
participaria de um clássico deste tipo.
- É uma situação muito curiosa. Estou ansioso para poder vivenciar tudo
isso. Acho que vai ser bastante interessante fazer parte desta
história. Não imaginei que, próximo de encerrar a carreira, participaria
de um Boca x River, mesmo que genérico. É diferente, mas faz parte.
Vamos em busca da nossa primeira vitória sobre o rival. Espero que a
torcida dos dois clubes compareça a essa festa - falou Tuchê.
Júnior Tuché Boca Junior (Foto: Thiago Barbosa)
Sem virar a casaca?
A história de Boca Juniors e River Plate tem exemplos emblemáticos de
jogadores que não levaram muito em conta a rivalidade e trocaram de
camisa. Isso ajudou a apimentar ainda mais o clima hostil entre as
partes. Batistuta trocou o time branco, preto e vermelho pelo azul e
amarelo. Cannigia fez o mesmo e conseguiu a proeza de ser ídolo nas duas
frentes. Mas em Sergipe, os jogadores que passaram por Boca e River
nunca 'viraram a casaca'. Pelo menos na lembrança dos dirigentes dos
dois clubes não consta este registro. Mas o antagonismo que já é
tradição na Argentina ainda precisa de muitos ingredientes em Sergipe
para ganhar o clima de rivalidade tão observado nos grandes clássicos.
Boca-SE e River-SE terão tempo de sobra para construir tudo isso. Na
noite desta quarta, escreverão apenas o primeiro capítulo desta que
promete ser uma longa história.
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