No mundo do futebol, os cartolas são reconhecidos como grandes empresários, políticos ou magnatas cheios da grana, que brincam de gastar seus ‘milhões’ na compra de craques renomados. Em São Domingos, a 76 quilômetros da capital Aracaju, o presidente do time que leva o nome da cidade tem um perfil bem diferente. Além de mandatário do clube, ele também é pedreiro.
Iradilson dos Santos, mais conhecido como Dilson, começou na atividade aos 18 anos, quando foi morar em São Paulo em busca de oportunidades profissionais. Trabalhou como eletricista, pintor e pedreiro. Em pouco tempo ganhou experiência e virou um exímio mestre de obras, chefiando uma equipe.
Das mãos habilidosas do cartola pedreiro, que faz questão de continuar no batente, já foram erguidas diversas construções. O capricho no serviço só fez com que a clientela aumentasse.
- Grande parte dos prédios em São Domingos foi construída por mim. Trabalho também em Itabaiana e em outros municípios vizinhos. Trenho ainda muitos clientes em Aracaju - disse Iradilson.
Com o trabalho, conseguiu transformar radicalmente sua vida. Construiu uma boa casa e conseguiu dar uma condição bastante confortável para a família.
Casa da família, construída pela equipe de trabalho de Dilson
Nos dias de folga, o pedreiro de 34 anos gostava de ir ao Estádio Arnaldo Pereira para assistir aos jogos do São Domingos. Respeitado na cidade, acabou recebendo um convite inesperado: ser o presidente do clube.
- O São Domingos estava vivendo uma grande crise. Aí, o prefeito da cidade na época, Hélio Mecenas, me chamou para assumir o time. Não era um bom negócio. Mas topei o desafio.
A chegada do novo cartola foi o início de uma arrancada que levou o São Domingos a sair da condição de azarão para se transformar em uma das equipes mais respeitadas do futebol sergipano.
Em 2007, primeiro ano de gestão, o Coelho do Agreste estava prestes a cair para a segundona do futebol sergipano. Mas Dilson conseguiu livrar o time da degola.
Dois anos depois, veio o primeiro título. A equipe conquistou a Copa Governo do Estado em cima do Sergipe. O triunfo garantiu ao time uma vaga na Copa do Brasil. Em 2010, o São Domingos conquistou o bicampeonato e mais uma vez o direito de disputar a competição nacional.
Na última temporada, o São Domingos ficou com o vice-campeonato no Sergipano, posição que também lhe deu direito a participar, pela terceira vez consecutiva, da Copa do Brasil.
Com uma folha salarial que gira em torno de R$ 72 mil, às vezes honrar com todos os compromissos é tareda difícil, já que não há muitos patrocinadores. Mas Dilson não gosta de ficar devendo e coloca dinheiro do próprio bolso para não atrasar as contas.
- Já coloquei cerca de oitenta mil reais no clube, espero receber ainda (risos) - brincou o presidente.
Para ter a bolada de volta, Dilson espera a classificação para a segunda fase na Copa do Brasil. O adversário é o Vitória-BA. O favoritismo está do lado baiano, mas a equipe foi reforçada.
- Mantivemos uma base e contratamos jogadores qualificados. E se for preciso vamos contratar mais.
Cumprir a dupla função não é tarefa fácil. Por isso, Dilson tem que administrar o tempo.
- É corrido. Minha esposa fica irritada. Tem que se dividir um pouco para cada profissão. Durante a semana, tiro dois dias para ir ao campo e três para dar continuidade ao meu trabalho nas obras.
Mas o ritimo acelerado não desanimou Dilson, que pretende levar o time para voos ainda mais altos. O sonho do momento, além de uma boa campanha na Copa do Brasil, é o título estadual .
O cartola sabe que já virou um dirigente de sucesso, porém garante que jamais vai abandonar a profissão de origem.
- Tenho o maior orgulho do meu trabalho. Tudo que tenho na minha vida consegui através dele e me orgulho em dizer que sou pedreiro.
Dilson também escalou sua equipe de trabalho para realizar obras no estádio do clube, o Arnaldão. Eles reformaram as arquibancadas e fizeram o calçamento das dependências do campo. Mas este serviço o dirigente garante que será cobrado.
- Não tenho como fazer isso de graça, já que tenho que pagar meus funcionários que trabalharam na obra.
Na contramão dos milhões gastos pelos cartolas dos grandes clubes do Brasil, o presidente do São Domingos sabe que o sucesso vem tijolo a tijolo, conquista a conquista.
fonte: globoesporte.globo.com/se/noticia
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