Lagartense encomenda o próprio funeral

Everalda quer helicóptero com flores, banda marcial e enterro no Cemitério Nosso Senhor do Bomfim.

Ítalo Duarte

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Ela está viva e muito bem de saúde, mas quer helicóptero com flores, banda marcial e enterro no principal cemitério da cidade. É esse o funeral dos sonhos de Everalda, a primeira transexual do município de Lagarto. Ela mostrou o roteiro do seu cortejo fúnebre, da saída do velatório até o último adeus antes de ver guardado o caixão. 

 

Há muito tempo que Everalda vem planejando o dia do seu adeus, inclusive já encomendou caixão e mortalha. Seu féretro custou R$ 20 mil, já sua "roupa de morrer", como ela mesma classifica, se caracteriza por ser um vestido branco, parecido com uma manta.

Ela pretende viver ainda por muito tempo, mas, apesar de afirmar não ter medo da morte, se prepara para o dia em que, segundo ela, "for chamada por Deus". Para isso já planejou de ponta a ponta como será seu enterro. "A esposa do sobrinho da minha mãe é quem vai tomar conta do mausoléu", revelou Everalda, hoje com 65 anos.

Segundo ela, no dia do seu enterro, após o corpo ser velado num velatório que ela mesma escolheu, o caixão percorrerá as principais ruas do centro de Lagarto, onde mora há seis décadas. "Segue a Avenida Zacarias Júnior e sobe a Avenida Presidente Vargas até o Cemitério Senhor do Bomfim", traçou.

Um documento com o roteiro foi preparado por ela. Nele ainda é possível saber dos pedidos de Everalda. Entre eles está o de uma banda de música acompanhando todo o cortejo, e a homenageando com um dobrado em frente a uma loja de móveis localizada na Praça Filomeno Hora.

Para dar brilho e importância ao dia de partida, Everalda também solicitou um helicóptero. "Quero que jogue flores sobre o meu caixão na hora do enterro", explicou. "E o caixão coberto com a bandeira do Brasil, porque eu faço parte do folclore", detalhou Everalda, que desfila há 22 anos no 7 de Setembro de Lagarto.

A relação de Everalda com os rituais funerários não é de agora. No início deste ano, ela, de forma inédita, inaugurou seu próprio jazigo no Cemitério Nosso Senhor do Bomfim, o principal campo-santo de Lagarto. O evento inusitado contou com a presença do pároco local, da imprensa e de pessoas próximas.

Relação com o catolicismo

São estreitos os laços que Everalda mantém com a religião católica. Devota de Nossa Senhora da Piedade, ela já tem acordada a doação de todos os seus bens à paróquia de Lagarto. De acordo com ela, após sua morte, a casa deve pertencer a Nossa Senhora, móveis e outros objetos deverão ser distribuídos com os pobres.

Além de pedir a presença do pároco da cidade, padre Raimundo Diniz, ela também quer seu jazigo arranjado com suas próprias flores e imagens de santos que guarda em sua casa. "Os santos colocar no mausoléu. Levar todos os meus arranjos de flores para o mausoléu", comunicou, solicitando ainda a execução do canto Com Minha Mãe Estarei.

Ao final de seu enterro, quando já estiver dentro da caixa do seu sepulcro, Everalda só faz mais um desejo. Com a humildade que lhe é natural e o carisma e a simpatia que fizeram dela uma das maiores figuras da sua cidade, ela pede: "Rezem por mim".