“Não cato piolho na cabeça dos outros nem me pagando”, diriam 9 em 
cada 10 pessoas. Anna Paula Braga é uma das únicas que nunca vai soltar 
essa frase, ou estará cuspindo no prato que comeu. A carioca ganha a 
vida procurando os insetos, fio por fio, no cabelo de crianças, 
adolescentes e até de adultos. Isso mesmo. Sua profissão, ela diz sem 
vergonha nenhuma, é catadora de piolhos.
– Não é bárbaro isso que 
eu faço? Eu combato uma praga! As minhas filhas morrem de vergonha, mas 
eu nunca tive. Qualquer trabalho tem o seu lado negativo – diz.
Apesar
 da vergonha, as três filhas são as “culpadas” por Anna ter entrado de 
cabeça nesse negócio. Ela catava os piolhos delas e das amiguinhas de 
escola com paciência de jó. Até que, há oito anos, seguindo uma ideia da
 mãe, resolveu transformar em profissão o que para muitos é nojento. A 
catadora de piolhos cobra R$ 70 por hora e atende na casa dos clientes, 
permitindo que crianças assistam televisão, usem o computador, joguem 
video-game ou façam o dever de casa enquanto ela trabalha.
– Com a
 correria do dia a dia, os pais não têm mais tempo de olhar a cabeça do 
filho como se deve. É um trabalho muito cuidadoso. Se eu não acabo com 
todos os piolhos, tiro 99% deles – garante Anna, que só não aceita um 
tipo de cliente: – Eu não cato em quem tem dread. Nesse tipo de cabelo 
não entra nem pente, como vou catar piolho? – brinca.
Anna Paula não é só catadora, como também uma estudiosa de 
piolhos. Poucos cientistas sabem mais da vida e da história desses 
insetos do que ela. Tanto que realiza o seu serviço só com as mãos, um 
pente fino e uma toalha branca. Nada de remédios, vinagre, alfazema ou 
algo do tipo.
– Nada disso funciona. As lêndeas e os piolhos 
menores não morrem com remédio. Sem contar que o álcool presente na 
fórmula queima o couro cabeludo – afirma.
Mas só catar não adianta:
–
 O piolho vive fora da cabeça enquanto tiver sangue na barriga. Por 
isso, tem que lavar toalhas e roupa de capa e passar água e vinagre no 
chão.
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