quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Estudante salvou ao menos 14 pessoas antes de morrer em incêndio


Jovem teria sido um dos primeiros a sair, mas voltou para ajudar. Pai acredita que se filho não tivesse entrado, tragédia seria maior


 Bruno (à esq.), o pai (centro) e a irmã (dir.) de Vinicius fazem gesto em homenagem ao estudante (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Parentes e amigos do estudante de educação física Vinícius Montardo Rosado, de 26 anos, tentam, com muito esforço, cumprir o que acreditam seja um dos últimos desejos do jovem e não chorar. O brincalhão de quase dois metros, que nunca ficava emburrado, segundo sua família, foi um dos 235 mortos no incêndio na boate Kiss, em Santa MariaRio Grande do Sul. Ele foi um dos primeiros a sair da casa noturna em chamas, mas decidiu voltar e ajudar quem não conseguia escapar. Pelo menos 14 pessoas foram retiradas daquele lugar pelo rapaz, segundo relatos de sobreviventes.
G1 esteve na casa onde o jovem vivia com a família, em Santa Maria, nesta terça-feira (29). Logo na entrada da casa simples, alguns parentes que foram prestar condolências à família estavam sentados em cadeiras de armar. Enquanto conversavam, tomavam chimarrão.
No quarto, a auxiliar de escritório Jéssica Montardo Rosado, de 24 anos, irmã de Vinícius, mostrou fotos dele ainda criança que tinham sido publicadas no Facebook. "A gente era muito unido. Sempre dormimos na mesma cama, desde pequenos", disse.
Vinícius faz gesto que era considerado sua marca
registrada (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Ao abrir o guarda-roupas, ela retirou do canto da prateleira mais alta uma camisa do Internacional. "Aqui está tudo que ele tinha. Essa era a paixão dele", afirmou.
“Se ele e muitos outros jovens não tivessem voltado para ajudar, essa tragédia seria muito maior. Em vez de 234, seriam 400, 500 mortos”, disse o pai de Vinícius, o gerente de eventos Ogier de Vargas Rosado, de 51 anos.

O estudante estava animado com o futuro. Com formatura marcada para este ano, planejava seguir para São Paulo, onde trabalharia e juntaria um dinheiro para um cruzeiro marítimo. Adepto de esportes que exigem físico desenvolvido, como rúgbi, queria se tornar lutador de MMA.

Ele e seu melhor amigo, o empresário Bruno Perin, de 25 anos, criaram quando adolescentes um estilo de vida intitulado “free life style”. “É como um ‘carpe diem’, sobre aproveitar ao máximo a vida. E acho que ele conseguiu isso durante a vida”, lembrou o jovem.

Parentes contam que Vinicius adorava festas, mas cancelava qualquer evento se um amigo precisasse de ajuda. “Era um rapaz muito humilde. Nunca vi ninguém falar que não gostava dele”, disse o pai. “Brincava que ele era como uma baleia: grande, forte e doce.”

Foi em uma festa, porém, que a vida do jovem chegou ao fim. Segundo testemunhas, na madrugada de domingo Vinicius saiu da boate e procurou a irmã. Ao ver que Jéssica estava bem, voltou ao prédio em chamas, para resgatar quem não conseguia encontrar a saída.


Desenho feito por amigos de Vinicius (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Desenho feito por amigos de Vinicius
(Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Depois de alguns minutos, foi retirado por bombeiros desacordado. Ele morreu na ambulância, a caminho do hospital. No velório coletivo realizado no ginásio esportivo da cidade, pessoas que sobreviveram e que participaram da cerimônia reconheceram Vinicius. “Passavam e diziam: ‘lembro dele. Foi ele quem me salvou’”, afirmou Bruno. Por suas contas, foram 14 os resgatados pelo estudante de educação física. “Santa Maria não pode ser lembrada como uma terra onde aconteceu uma tragédia, mas uma terra de heróis”, completou.
Inicialmente revoltado com o desprendimento do filho que causou sua morte, Ogier reviu sua opinião após pensar e conversar com a filha. “Ela me disse que, mesmo que eu estivesse lá e tentasse impedi-lo, ele me empurraria e entraria. Era a índole dele. Se ele não tivesse entrado, sei que se arrependeria de ter deixado todas aquelas pessoas morrerem.”

Emocionado com o exemplo do filho, o gerente de eventos espera que o mundo tenha outros tantos Vinicius. “Se o mundo tivesse esse tipo de solidariedade uma vez a cada seis meses, ele seria um lugar melhor para se viver.

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